PINSKY, Jaime – A escravidão no Brasil: As razões da
escravidão; sexualidade e vida cotidiana, as formas de reistência - São Paulo,
9º ed., Contexto, 2004.
O autor: Jaime Pinsky, historiador e editor foi professor na Unesp, USP
(da qual, é doutor livre-docente) e Unicamp (onde se tornou professor titular).
É autor de vasta obra, em que se destacam os livros Origens do nacionalismo
judaico, As primeiras civilizações, Cidadania e educação, 12 faces do preconceito;
Brasileiro é assim mesmo e as coletâneas 100 textos de História Antiga e
História da América através de textos.
A obra de Jaime Pinsky sobre a escravidão no Brasil é composta por quatro
capítulos sendo eles: Ser escravo; O escravo indígena; O escravo negro e Vida
de escravo.
No capítulo Ser escravo, o
autor aborda a questão do, escravo ter um dono, ser comprado como mercadoria e
desta forma, perde seu poder deliberativo, como ser humano, tornando-se
propriedade de quem o comprou, além disso, o escravo pode ter vontades, como
todo o ser humano, mas não pode satisfazê-la, pois sua vontade pertence ao seu
dono é uma relação de submissão total.
Segundo o autor,
Portugal estava com defasagem populacional devido a guerras e epidemias e a
forma de suprir esta falta, foi a escravização, primeiro do índio e
posteriormente do escravo, precisa de mão-de-obra para as navegações e para o
trabalho na colônia.
No capítulo “O escravo indígena”,
o autor mostra que no primeiro século da história do Brasil, os portugueses
utilizavam o trabalho do índio, que foram capturados, e “deslocados do seu
ambiente e exposto a doenças, o índio era submetido a condições de vida
terríveis“ (Pinsky, 2004, p.19), sem poupar mulheres e crianças. Uma das
justificativas para a captura era o que se chamou de guerra justa, autorizada
pela coroa e pelos governos contra os índios antropofágicos, pois estas tribos
representavam uma ameaça ao homem branco e a outras tribos.
No capítulo, “O Escravo negro”,
o autor salienta sobre a origem do negro, de onde ele foi trazido, sua
dominação, o trabalho no engenho e o cativeiro. O negro foi a principal mão-de-obra
na fazenda do café e do açúcar com uma jornada de trabalho muito intensa.
Quanto à origem, o negro foi trazido da África, de uma região, hoje
conhecida com “região que vai da embocadura do Rio Senegal até o Rio Orange,
atual Gabão” (Pinsky, 2004, p.30). O transporte do negro era feito em navio, em
péssimas condições onde muitos morriam por epidemias e por falta de higiene. O
autor mostra através de gráficos o número de negros que embarcaram, quantos
morreram e quantos chegaram no Brasil. Estes dados mostram que as embarcações
eram de mercadorias humanas. Além disso, havia o Mercado, local onde o negro
ficava até ser comprado pelo fazendeiro.
No capítulo “A vida de escravo”,
o autor mostra a jornada de trabalho, muito extensão, podendo chegar até
18horas de trabalho diário, além disso, a moradia, a vestimenta e o lazer
planejados e determinados pelo senhor da fazenda. O escravo, negro ou índio,
que tentasse fugir era punido com muita violência, podendo ser morto no
castigo, os objetos utilizados são diversos, sendo: máscaras para evitar que o
escravo engolisse ouro para depois recuperar e vender e para evitar que se
embriagassem em horário de trabalho.
Os escravos que trabalhavam na agricultura, tanto o homem quanto a mulher
sofriam os mais diversos tipos de violência, tanto no trabalho da lavoura,
quando não satisfaziam a jornada de trabalho ordenado pelo senhor, e a mulher
negra sofria violência pelas mãos da sinhá, por ciúme de seu marido, quando
este tinha um caso com a escrava. A sinhá podia mandar matar ou torturá-la,
ademais, as crianças que poderiam se fruto da relação entre senhor e escrava
também eram assassinadas.
A obra de Pinsky é muito rica na clareza de conteúdo e muito completa com
ilustrações que mostram a captura dos índios por caçadores; o mercado onde
ficavam aguardando serem comprados; o navio onde viajavam; a vida na senzala e
os negros, utilizando máscaras de castigos, assim como outros objetos de
tortura. Outro recurso enriquecedor foi a utilização de gráficos, pois
possibilitou mais clareza sobre os números de escravos comercializados e o
número de mortos.
O assunto escravidão não se estanca devido à complexidade e amplitude do
processo, pois os escravo estavam em toda a parte, na agricultura, na cidade,
nas casas das fazendas, nas repartições públicas, em fim, em todos os lugares
onde havia necessidade do trabalho escravo. Sendo assim há sempre a
possibilidade de uma interpretação nova sobre o mesmo assunto, ou uma
interpretação nova sobre o escravo em locais ainda pouco pesquisados. Conforme
o autor, “na impossibilidade de tratar a vida cotidiana dos escravos em todas
as atividades, vou me ater ao escravo da agricultura cafeeira”, (Pinsky, 2004,
p.47). É complexo por se tratar do ser humano, envolvendo homens, mulheres e
crianças, que tornarem mercadoria de outro homem, portanto, o assunto escravidão
pode ser tratado em cada situação isolada, sendo possível um trabalho
envolvendo a questão da mulher, da criança e do homem independente um do outro.
É uma obra que contribui muito para o estudo sobre escravidão indígena ou
negra e possibilita a reflexão sobre o que se deve a essas pessoas que foram
muito importantes para desenvolvimento do País. Como seria nosso país sem a
mão-de-obra escrava?
São Leopoldo, novembro de 2006.
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