Identidade brasileira

"O Brasil criando-se a si mesmo. Inventando um povo que constitui um novo gênero humano, fundindo herança genética e cultural de índios, negros e europeus num gênero humano novo, uma coisa nova que nunca houve é isso, uma nova aventura brasileira." (Darcy Ribeiro)

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quinta-feira, 5 de julho de 2012

A ESCRAVIDÃO NO BRASIL - Reflexão

PINSKY, Jaime – A escravidão no Brasil: As razões da escravidão; sexualidade e vida cotidiana, as formas de reistência - São Paulo, 9º ed., Contexto, 2004.
O autor: Jaime Pinsky, historiador e editor foi professor na Unesp, USP (da qual, é doutor livre-docente) e Unicamp (onde se tornou professor titular). É autor de vasta obra, em que se destacam os livros Origens do nacionalismo judaico, As primeiras civilizações, Cidadania e educação, 12 faces do preconceito; Brasileiro é assim mesmo e as coletâneas 100 textos de História Antiga e História da América através de textos.
A obra de Jaime Pinsky sobre a escravidão no Brasil é composta por quatro capítulos sendo eles: Ser escravo; O escravo indígena; O escravo negro e Vida de escravo.
No capítulo Ser escravo, o autor aborda a questão do, escravo ter um dono, ser comprado como mercadoria e desta forma, perde seu poder deliberativo, como ser humano, tornando-se propriedade de quem o comprou, além disso, o escravo pode ter vontades, como todo o ser humano, mas não pode satisfazê-la, pois sua vontade pertence ao seu dono é uma relação de submissão total.
Segundo o autor, Portugal estava com defasagem populacional devido a guerras e epidemias e a forma de suprir esta falta, foi a escravização, primeiro do índio e posteriormente do escravo, precisa de mão-de-obra para as navegações e para o trabalho na colônia.
No capítulo “O escravo indígena”, o autor mostra que no primeiro século da história do Brasil, os portugueses utilizavam o trabalho do índio, que foram capturados, e “deslocados do seu ambiente e exposto a doenças, o índio era submetido a condições de vida terríveis“ (Pinsky, 2004, p.19), sem poupar mulheres e crianças. Uma das justificativas para a captura era o que se chamou de guerra justa, autorizada pela coroa e pelos governos contra os índios antropofágicos, pois estas tribos representavam uma ameaça ao homem branco e a outras tribos.
No capítulo, “O Escravo negro”, o autor salienta sobre a origem do negro, de onde ele foi trazido, sua dominação, o trabalho no engenho e o cativeiro. O negro foi a principal mão-de-obra na fazenda do café e do açúcar com uma jornada de trabalho muito intensa.
Quanto à origem, o negro foi trazido da África, de uma região, hoje conhecida com “região que vai da embocadura do Rio Senegal até o Rio Orange, atual Gabão” (Pinsky, 2004, p.30). O transporte do negro era feito em navio, em péssimas condições onde muitos morriam por epidemias e por falta de higiene. O autor mostra através de gráficos o número de negros que embarcaram, quantos morreram e quantos chegaram no Brasil. Estes dados mostram que as embarcações eram de mercadorias humanas. Além disso, havia o Mercado, local onde o negro ficava até ser comprado pelo fazendeiro.
No capítulo “A vida de escravo”, o autor mostra a jornada de trabalho, muito extensão, podendo chegar até 18horas de trabalho diário, além disso, a moradia, a vestimenta e o lazer planejados e determinados pelo senhor da fazenda. O escravo, negro ou índio, que tentasse fugir era punido com muita violência, podendo ser morto no castigo, os objetos utilizados são diversos, sendo: máscaras para evitar que o escravo engolisse ouro para depois recuperar e vender e para evitar que se embriagassem em horário de trabalho.
Os escravos que trabalhavam na agricultura, tanto o homem quanto a mulher sofriam os mais diversos tipos de violência, tanto no trabalho da lavoura, quando não satisfaziam a jornada de trabalho ordenado pelo senhor, e a mulher negra sofria violência pelas mãos da sinhá, por ciúme de seu marido, quando este tinha um caso com a escrava. A sinhá podia mandar matar ou torturá-la, ademais, as crianças que poderiam se fruto da relação entre senhor e escrava também eram assassinadas.
A obra de Pinsky é muito rica na clareza de conteúdo e muito completa com ilustrações que mostram a captura dos índios por caçadores; o mercado onde ficavam aguardando serem comprados; o navio onde viajavam; a vida na senzala e os negros, utilizando máscaras de castigos, assim como outros objetos de tortura. Outro recurso enriquecedor foi a utilização de gráficos, pois possibilitou mais clareza sobre os números de escravos comercializados e o número de mortos.
O assunto escravidão não se estanca devido à complexidade e amplitude do processo, pois os escravo estavam em toda a parte, na agricultura, na cidade, nas casas das fazendas, nas repartições públicas, em fim, em todos os lugares onde havia necessidade do trabalho escravo. Sendo assim há sempre a possibilidade de uma interpretação nova sobre o mesmo assunto, ou uma interpretação nova sobre o escravo em locais ainda pouco pesquisados. Conforme o autor, “na impossibilidade de tratar a vida cotidiana dos escravos em todas as atividades, vou me ater ao escravo da agricultura cafeeira”, (Pinsky, 2004, p.47). É complexo por se tratar do ser humano, envolvendo homens, mulheres e crianças, que tornarem mercadoria de outro homem, portanto, o assunto escravidão pode ser tratado em cada situação isolada, sendo possível um trabalho envolvendo a questão da mulher, da criança e do homem independente um do outro.
É uma obra que contribui muito para o estudo sobre escravidão indígena ou negra e possibilita a reflexão sobre o que se deve a essas pessoas que foram muito importantes para desenvolvimento do País. Como seria nosso país sem a mão-de-obra escrava?
São Leopoldo, novembro de 2006.

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