Identidade brasileira

"O Brasil criando-se a si mesmo. Inventando um povo que constitui um novo gênero humano, fundindo herança genética e cultural de índios, negros e europeus num gênero humano novo, uma coisa nova que nunca houve é isso, uma nova aventura brasileira." (Darcy Ribeiro)

Tradutor

quinta-feira, 15 de março de 2012

Da série recordando a sala de aula

Este texto foi criado após uma aula ministrada pela Professora Eloisa Capovilla Ramos e ao relê-lo resolvi compartilhar com os leitores de meu blog, pois esta é uma maneira de mostrar o que produzimos em sala de aula quando estudantes do curso de História, e também é uma maneira refletir sobre o assunto História e Literatura.
Segundo a Professora Ramos, os historiadores buscam a literatura para construir seu texto e literatos também buscam a história para construir sua obra de ficção. Nas últimas décadas, dos anos 90 aos 2000 passou a se perguntar o que aproxima e distancia a história e a literatura e como estão sendo escritas no Rio Grande do Sul, além de ver como os autores constroem o Índio, o Açoriano e o Alemão. Estas etnias foram consideradas como um grupo homogêneo, pois não se percebia as características próprias de cada ser, por considerar que os Índios não diferiam entre si, assim como os Alemães que vieram de regiões distintas de um País ainda não unificado, como a Alemanha e os Açorianos que não vieram da mesma região.
Segundo Correia (2006) “em 1973, o governo do estado decretou o Biênio da Imigração e Colonização (1974/1975) e o Instituto Estadual do Livro selou uma série de livros sobre os alemães, italianos, judeus e poloneses. A partir de então, tem-se uma imagem em mosaico da história regional, cuja composição étnica teria se diversificado no decorrer dos séculos XIX e XX”.
Pensava-se que a Literatura e a História eram próximas, tendo como primeira aproximação elementos do tecido do contexto social, mulheres e homens usados na Literatura tomam corpo na História e esta averigua elementos sociais e políticos presentes na peça Literária. E, o que distancia é que a Literatura tem como pressuposto a ficção e a História a cientificidade e a aproximação com a verdade. Mas o que realmente aproxima a História e Literatura é a narrativa, como gênero, forma racional é comum ao discurso da História e da Literatura, pois ambas falam da narrativa, então pode-se discutir mais semelhanças do diferenças entre elas.
Em relação às fontes e autores, Capovilla citou a Professora Sandra Pesavento (1990), que escreve sobre História e Literatura e o diálogo entre elas. Para distingui-las, a primeira busca o que passou e a segunda cria o enredo que poderia ter ocorrido. Só o Historiador mostra que sua versão FOI, aconteceu, pois trabalha com ferramentas além do que o Literato usa. O trabalho com as fontes históricas possibilita nos aproximar da verdade. Hoje se vê que a troca de informações entre o historiador e o literato enriquece a historiografia. A História se preocupava com a narrativa dos fatos verídicos, mas hoje já existe a história cultural e do imaginário, sendo possível de trabalhar as fontes. A professora usou uma metáfora: o historiador deve usar óculos de míope para ver os detalhes de informações de uma fonte.
Citando a historiografia literária, temos A Casa das Sete Mulheres, que é literatura calcada na História e aí podemos perguntar quantas mulheres havia realmente naquela casa esperando pelos maridos que foram para a guerra. Domingos José de Almeida estava na guerra e escrevia para a esposa pedindo que se encontre com ele em determinado lugar, e isto era propor a sociabilidade em plena revolução. Segundo a palestrante, obra literária mais completa são O Tempo e o Vento de Érico Veríssimo, que mescla informações históricas com ficção. Desta obra se pergunta: é historia ou literatura? Outro exemplo de literatura é Contos Gauchescos de Simões Lopes Neto, que também faz interpretação da história do Rio Grande do Sul.
Hoje, o historiador pesquisa sobre a história do Rio Grande do Sul, sobre o contrabando, pois fora considerado uma região de fronteira, tendo uma formação contrabandista. Nos anos 30 houve a modernização da Capital, Porto Alegre e aí surgem obras calcadas na História do Rio Grande do Sul, podendo ser outro exemplo, Luis Antonio de Assis Brasil.
Como as Etnias aparecem nos estudos históricos e literários? Solano Lopes Neto, em sua obra: Melancia e Coco Verde, fala dos açorianos e o descreve como um boca-aberta, um engomadinho, que não sabia montar e que dificilmente as mulheres se interessariam por homens assim. Érico Veríssimo também descrevia o açoriano como um homem que não sabia montar, não eram gaúcho. Já, o negro na obra do Érico tem valor moral, já o índio, Pedro Missioneiro, mesmo não tendo prestígio na família gaúcha, deixou um filho que foi criado e aceito pela família de Ana Terra, mulher com a qual se envolvera. Este autor aborda mais o homem do que a mulher.
A sociedade riograndense é formada por etnias diversas como: o negro, o índio, o alemão, o italiano, belgas, holandeses, suíços, entretanto, muitos belgas, holandeses, suíços que chegaram com os alemães e posteriormente com os italianos, “foram registrados como alemães ou como franceses, dependendo da língua e italianos do Tirol, como austríacos” (Correia, 2006). Esta falta de distinção entre os grupos influencia na forma como os brasileiros viam os imigrantes, aparentemente um grupo de pessoas que vieram de outro país, quando, na verdade vieram grupos distintos de diversas regiões, cada um com suas peculiaridades. Estes registros deturpados, na pesquisa historiográfica influenciam a interpretação dos dados, assim como o negro que veio de distintas regiões da África, fica entendido como um grupo homogêneo, de uma região única e esta é o olhar brasileiro/riograndense sobre as etnias.
Borges Fortes diz que o Rio Grande do Sul era formado por casais açorianos e que não fora formado por raças inferiores como o resto do Brasil. Esta fora uma visão no período do centenário da Revolução Farroupilha e então faltou a percepção dos grupos que fizeram parte da formação deste estado, como os negros, os índios, os açorianos e outros.

Bibliografia consultada
CORREIA, Silvio. Multiculturalismo e Fronteiras Étnicas. In: PICCOLO, Helga; PADOIN, Maria. (Org.). História Geral do Rio Grande do Sul – Império. Passo Fundo/RS, 2006, v.2, p.257-278.

Nenhum comentário:

Postar um comentário